Uma Palavra Amiga

Livres por dentro

16 de Outubro
A verdade vos libertará. João 8:32.
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Como dissemos ontem, há uns anos tive o privilégio de pregar a um nutrido grupo de reclusos na prisão Due Palazzi de Pádua (Itália). Com base nessa visita, recebi incríveis bênçãos, e conheci seres humanos que me ajudaram a crescer espiritualmente e a tomar consciência, de um modo especial, da importância de deixar de lado os preconceitos e de estar disposto a aprender com todos. Entre muitas outras coisas, descobri que esta prisão se tornou famosa porque, diferentemente de outros centros prisionais, aqui tinha triunfado um admirável projeto levado a cabo pelas autoridades penitenciárias, em colaboração com associações de interesse social e alguns grupos religiosos (um deles adventista), para satisfazer as necessidades dos reclusos em três dimensões da sua vida: a educação, o trabalho e a vida espiritual.

Nicola Boscoletto, responsável pelo projeto durante um tempo, explica que o ponto de partida era tratar os detidos como pessoas dignas de respeito e não como delinquentes, começando por deixá-los usarem a sua própria roupa, prescindindo dos clássicos uniformes prisionais. E, muito mais importante do que isso, facilitar trabalho remunerado aos prisioneiros, para poderem enfrentar as suas necessidades e enviar, todos os meses, uma quantia significativa de dinheiro à sua família, cônjuge, pais ou filhos.

No interior da prisão existe uma pastelaria onde cerca de quinhentas pessoas trabalham no processo de elaboração de peças tradicionais de sobremesas italianas, como o famoso panetone, ou os chamados “ovos da Páscoa”. Esta abordagem deu resultados surpreendentes: se, a nível mundial, a média de reincidência dos delinquentes libertados vai de 70 a 90%, nesta prisão limita-se a vinte por cento, e entre os réus que trabalham a reincidência é apenas de um ou dois por cento. Este dado é, por si só, um milagre.

A importância atribuída à vida espiritual dos presos contribuiu notavelmente para o êxito deste projeto. Porque ajuda os internos a tomarem consciência dos seus erros, a assumirem melhor as penas e a adotarem atitudes mais esperançosas e solidárias.

“A fé foi um ponto de viragem decisivo para poder mudar, para me abrir para um futuro melhor. Inspira-me a continuar a crescer. Vejo a minha vida de outra maneira. Sou livre por dentro. Deus dá-me uma grande força para enfrentar os problemas, porque agora não me sinto sozinho, mas apoiado”, afirma um dos reclusos convertidos na prisão cujo testemunho tive a alegria de recolher.

Senhor, continua a fortalecer o meu desejo de partilhar esperança.